A Minha Dama de Vermelho


PARTE 1- ELA

Ela apareceu não sei de onde, mas pela roupa já sabíamos que ela não tinha saído de casa para estar em um bar... Feliz também não  estava..Maquiagem borrada, despenteada... Com toda certeza aquela infeliz estava fugindo de algo dentro dela... Um a um foi deixando a risada e a conversa de lado, a medida que a moça caminhava em direção ao balcão. Seus passos eram lentos e seus olhos focavam um infinito... Era um corpo sem alma. Seu vestido era comprido como de uma  princesa , cheio, com rendas e com um tomara que caia mostrando um colo magro, uma pele lisa, branca... Era final de maio, sexta feira, e a graça toda tinha se curvado ao silêncio, e depois vieram os cochichos... 

-Quem ela é? Tá perdida...
-Será que veio buscar o noivo?
-Não é noiva...Noiva se veste de branco, esta aí de vermelho!Não pode ser...
- Do jeito que o mundo tá perdido... Vai que coisa de moda?!...
-Perdida tá é ela aqui.
-Olha só... Tá segurando o cordão..Será que tá com medo de ser assaltada? 
- Que nada... Acho que deve ser algo importante... Uma lembrança...
-Sim... Zé vá la´... Você que gosta de mulher carente e casada... Vá lá com a noiva de vermelho...
-A gente nem sabe de onde essa dama de vermelho veio, muito menos se é noiva... Mas quer saber? Vou  mermo. 

E tomei mais um gole de cerveja e fui falar com a dama de vermelho. Pensei , pensei.. E não tinha nada de novo pra dizer pra ela... Até que pedi uma cerveja pro Zeca do bar e olhei de canto pra carente de vermelho e soltei meu palavreado das mesas:

- Oi princesa... Não que você esteja em um local errado, mas este local que é errado perto da sua formosura... Tá perdida?
- Na verdade hoje creio que encontrei uma parte em mim que sobreviveu e eu nem sabia que estava morrendo, de fato sabia que não estava bem...Mas não sabia que era caso de falecer..De sucumbir...

Pois é... Respirei fundo, graças a Deus o Zeca trouxe rápido a cerveja, e pelo olhar dele ao me servi... Tinha escutado as palavras da dama... Tava tão espantado quanto eu.Tomei um gole. Fingi que entendi tudo o que ela disse e minha boca cheia de frases da minha carreira de caminhoneiro desenrolou...


- Entendo. É... A vida é que nem a estrada. Curvas fatais a nossa espera. Falando nisso... Você é linda.
- A beleza é um peso, tal como a juventude... Me pesa... Me fazem objeto. Me tornam vísceras e elas a pele e o ser agente. 

Ô mulher... Depois dessa olhei pro Zeca que tava se segurando pra não rir  da minha cara de susto. Pedi uma caipirinha forte pra ativar o chitãozinho e o xororó na minha mente... Zeca pegou a caipirinha que seria de outro freguês e me deu. Cochichou comigo 'você vai precisar mais".

Eita minha nossa senhora... Dama era bonita das palavras misturadas... Tava começando a pensar que ela não queria que eu entendesse. Sem falar que ela não olhou pra mim nenhuma vez. Falava olhando pro fundo do copo vazio... De repente a esbelta olhou pro Zeca e seguramente falou:
- Encha meu copo com sua água ardente... Quem sabe o álcool não evapora a minha vergonha...?

Que vergonha...? Num corpo delicado daquele... Com aquela face.. Ô meu Deus... Que uma flor daquela podia fazer pra ter ou dar vergonha?


(CONTINUA...)


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